Convite para subir


A Igreja, logo após a festividade de todos os Santos, dia 1º XI, convida a lembrarmo-nos dos que partiram desta vida e ainda precisam de nossas preces para, purificados, serem introduzidos na visão beatifica de Deus, que chamamos céu.

O dia dos finados não precisa ser comemorado levando flores para ornamentar os túmulos ou acendendo uma vela no jazigo da pessoa que nos é saudosa. É um dia especial de, lembrando os mortos, tomarmos consciência da transitoriedade de nossa vida terrena e de nosso destino eterno.

A comemoração dos que partiram desta vida nos leva à reflexão do desapego, que a maturidade da existência inexoravelmente acarreta. Um dia temos de nos afastar das responsabilidades, dos bens, das amizades, das pessoas que amávamos e que nos amam também. Teremos que partir.

Se o partir para longe já é quase morrer um pouco – “partir c’est mourir um peu” diz o poeta francês – a despedida final dos que amamos causa uma dor tão profunda que só a certeza de uma vida imorredoura nos pode consolar. É o que a liturgia da Igreja lembra para iluminar a fé e despertar a esperança.

Daí a necessidade da pedagogia do desapego no correr dos dias terrenos. Os mais velhos dão lugar aos mais novos. Os que estão à frente de uma empresa, de uma escola, de uma paróquia ou diocese cedem o posto a quem os substitua com mais vigor e mais capacidade. A lei da vida exige a transitoriedade das funções.

A comemoração dos que se despediram da vida terrena necessariamente nos leva a pensar na vida futura, aquela que não tem fim. O coração humano parece adivinhar que a morte não é o fim da existência, mas a passagem para uma vida melhor. A palavra de Deus é que nos dá a certeza de uma vida que não tem fim.

Parece-nos às vezes que a alma humana sente ter asas para subir, buscando espaços mais largos e mais altos, como se fôramos pássaros que amam as alturas...

Lembra-me aqui o inspirado anseio de Tristão de Ataíde: “O que sinto são asas que pedem mais azul, são asas que pedem mais espaço, são asas que pedem mais estrelas.” E remata dizendo: “Sinto que a terra não basta para mim, pássaro do caminho.”

A lembrança dos mortos não pode ser tecida só de saudades. É por certo um convite para subir... Nossas asas nos levam acima das estrelas. O porto de chegada é o coração de Deus.

Por, CNBB

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